quarta-feira, 15 de junho de 2016

Tive sorte de viver , ao menos parte do que ouvi
dizer de caso, roça, brincadeira antiga.

Correr de vaca, subir serra, casa de árvore, acampar no mato e mais um monte de coisa que só cansava quando parava e só parava por causa de chuva ou noite.

Nessa época aprendi admirar o céu, a lua, água de bica, ninho de pássaro.

Mais sorte ainda tive:
Fui criança e minha mãe foi comigo.

(poema inspirado na música Fazenda de Nelson Ângelo, interpretada por Milton Nascimento em seu álbum Geraes de 1976)

terça-feira, 12 de abril de 2016

Quando o poeta amou

Amou
"como se não houvesse amanhã"

Apaixonou-se perdidamente
e, de fato, se perdeu

Sentiu o cheiro de quem ali não estava
e lembrou-se dos dias em que o suor não os importava,
apenas os beijos

Chorou sozinho por pensar
não conseguir mais viver sem
este amor que, por vezes,
talvez,
fora idealizado da forma como não seria

Teve a certeza: jamais encontraria,
em lugar e pessoa alguma,
prazer e felicidade
como compartilharam

Continuou sonhando repetidas vezes
o que, por não poder ser,
tornou-se pesadelo

Mesmo assim
colocou-se na posição do que tenta
conquistar com carinho, afeto,
demonstrações puras de paixão

quinta-feira, 31 de março de 2016

Entre as maravilhas da vida
O amor
A música
A poesia
Os prazeres de origens inexplicáveis
Suspiros
Arrepios


Alguém explica essa emoção que é viver?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Perfume do Amanhã

Hoje sei
tudo que não me completou
simplesmente não faz parte do que sou
por escolha própria
abdicou-se de tornar-se unidade
e aos poucos se esvai

Tormento áspero
atritos
fagulhas
e o oxigênio incendiado
agora só fumaça

Esse fogo cauterizou
toda chaga aberta ontem
adubou as terras que percorrerei
onde colherei os frutos
flores
perfumes desse amanhã paciente

Tarde percebemos
aflições não passam de insegurança
duvidar que o coração ainda bate
e as pernas ainda andam

Como nos permitimos pensar
assim
tão ingenuamente
que este copo permanecerá vazio

se ainda nem provamos do que desejamos beber?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Casulo

Sem ar
Respiro o sentimento do mundo
Sufocante poluição de intenções sujas
E assim sou

Delírios que antecedem desmaios
levam a lugares que só existem aqui
Dentro
No mais profundo "eu" escondido n' alma

Casulo onde vivo
leio
ouço
crio

Devo resistir às investidas contra estas fronteiras
Aceitar o caminhar por este mundo sem cura

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Roteirista

O momento que vivo
sigo
derrotando a câimbra que me assola
as pernas tortas
os pés virados
que se acostumaram a andar pra trás

o que sei que fui
somou, subtraiu, multiplicou e dividiu
meu ser hoje

memórias torpes
lágrimas e sorrisos crus
frios
vazios de tanta imaginação tida
não vivida

leio em meus dedos dor
cura
certeza de assumir a escrita de meu roteiro

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Adeus

Cuidado!
Com a força na navalha.
Fio da palavra dita,
Corte da angústia;
Tão pesado vira raiva,
Fere a alma,
Fecha a porta.

A dor de se ver idiota,
A raiva que é só de si próprio.
De tanta insistência inútil
Em apegar-se a planos.

Sumir é pouco.
Minha despedida é: Adeus