segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Da última caixa

Dentro da menor caixa,
Dentro de todas as outras maiores.
Lá está a resposta.
Surpresas já me cansam.
Odeio esse joguinho de abrir presentes - dentro de presentes.
Caixas e mais caixas,
Que nunca acabam.
E pra piorar sempre tem papel picado entre uma e outra.
Isso me causa uma náusea enfurecida.
Vômito de liberdade.
Sai tudo, até as vísceras impuras,
Ensangüentadas,
Fétidas;
Inúteis.
Quero minha casa.
Minha cama.
Meus livros!
E aquela poltrona que nunca tive.
-Por favor, apague a luz! Vou ler agora.
As lentes dos meus óculos estão invertidas.
O lápis já não tem ponta.
A música começou em seu fim - meu fim.
A inércia dessa reticência infinita.
Cambalhotas.
Acrobacias ousadas...
Gravidade zero.
Todo mundo voando - menos aqueles que cortaram suas asas.
A porta se abriu,
Mas no fim do corredor tem outra.
- O banheiro é a segunda à esquerda.
Droga!, papel higiênico acabou.
Sem lápis, sem papel...
Liga o chuveiro e escreve com o dedo no espelho embaçado:
Não sei você,
Mas tenho uma sensação de estar sendo sonhado.

3 comentários:

marcos assis disse...

você tem idéias muito boas de textos. são imagens muito fortes e intensas - o caleidoscópio, as caixas uma dentro da outra com papel picado no meio, a guitarra, a fresta, a "reticência infinita".
talvez tente explorar um pouco mais da forma de expressá-las, a forma física mesmo que o texto toma: a organi(zação/cidade) das frases, as ambiguidades das frases, menos reticência (a idéia de reticência infinita é boa no conteúdo, mas e.g. um poema cheio de versos com uma palavra só fica cansativo de ler)... acho que você pode pensar mais em combinações de palavras ao invés de comtemplá-las. isso gera possibilidades incalculáveis de criação!
também os silêncios. acho que é isso. falta um pouco de silêncio nos textos. as idéias são muito boas mesmo. você já tá no caminho quanto à experimentar na pontução. mas ainda tem muito mais coisa, a tela e o papel são matéria prima também, assim como as palavras e idéias.
ou você pode não fazer nada disso e amadurecer seu estilo de outros jeitos; pelo menos seja intenso e experimente mais.
forte abraço!

Arthur disse...

Finalmente uma crítica!
é que ainda num consigo me importar muito com a estrutura do texto.
reticência já nem uso tanto assim não. Nesse texto mesmo tem só 2.
é que eu escrevo como eu to pensando, a medida q o pensamento ta fluindo eu to pensando e tem hora q da uma reticencia na minha cabeça ela acaba saindo no papel.
brigado pela crítica

ana f. disse...

puta que pariu!! esse foi um dos textos seus que eu mais gostei!!