segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Índia

Os cabelos negros lisos
Postos sobre o ombro.
Sorriso simples que diminui o olho
E aumenta a bochecha.

A pele é cor de jambo
Das mais bonitas entre o branco e o mulato.

Como que dois rabiscos negros
Sobrancelhas finas acima dos olhos puxados
Pelo sorriso.
Íris de jabuticaba que se confunde com a pupila
Dá um brilho aos olhos que a luz refletem.

A marca da felicidade
Está na curva desenhada do nariz à boca.
E a natureza presente
No fundo dessa fotografia limpa.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ana Banana

Serra mata mato verde
Terra lama chuva cheiro
Em ti.

Verde-ser alado
Vem me enverdecer
Com esse amor de clorofila
Fotossíntese-me.

Aga-dois-ó-mais-cê-ó-dois
Floema entorpecido
Xilema alumiado
Sol!

Palíndromo que se diz:
Ana banana - flambada
Com canela

Tamarindo meu.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sonhou A Vida Que Tanto Queria (Amélie)

Falou pra ela do amor dele.
Contou a ele que ela o queria.
E se beijaram como se soubessem.

Viajou na foto que o mostraria.
Sentiu a imagem que tanto queria.
As malas fez e se libertou.

Correu na tinta que observava.
O olhar ao longe que o conturbava
E no copo d'água viu a quem amava.

Filmou o dia que o viu sorrir.
Mandou as cartas que tão esperadas
Bateram à porta de quem esperava.

Mudou a vida de quem não vivia.
Cantou o riso de quem não sorria.
Sonhou o mundo que não merecia.

Cansou da vida que nunca levava.
Saltou do quarto que a aprisionava
Beijou a boca que tanto a chamara.

Chegou por fim aonde queria
Pagou sem preço por todos que via.
Viveu feliz com alheia alegria,
Enfim.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Recém Nascido

De onde me vejo
Sei que não falta muito.
Sinto-me na terceira pessoa.
Meu corpo é casca
Que nasceu velha
E morrerá jovem.
Dentro dele já não me cabe.

Daqui de cima
Fica claro o tabuleiro,
As peças se movendo
Sem saber, perceber.
Não se sabem nem se conhecem.
Vejo as cascas vivas
Corpos
Mortos vivos.

Com meus pensamentos sou.
Aqui só os sinto.
Nesse velório intermitente
Esperamos que os defuntos se levantem.
Renunciem seus nomes;
Enfim, possam nascer.

De onde me vejo
Sei que não falta muito.
Porque aprendi a respirar.